Menu

nossos guias de viagem - Bíblias de bordo (ou "planejamento vs improviso")

A curiosidade mais frequente das pessoas com relação às nossas viagens é sempre sobre o "jeito" que a gente viaja. Ou ficam impressionados, nos achando meio loucos, ou simplesmente não acreditam, pensam que estamos exagerando. A verdade é que a gente realmente viaja sem muito planejamento. 

Opssss, não é bem assim. Na verdade, cada viagem que a gente faz é planejada durante anos, sonhada, desejada, estudada...mas isso não quer dizer que a gente precise reservar cada hotel e meio de transporte com antecedência.


Nós temos verdadeiro horror de fazer reservas com muita antecipação. Claro, a gente compra as passagens aéreas com a maior antecedência possível, para pagar menos, faz seguro de saúde, organiza os vistos, essas coisas óbvias. Mas é só. Ultimamente, viajando com o Lipe, a gente tem tentado reservar os hotéis pelo menos no dia anterior à nossa chegada em cada cidade, porque descobrimos que é muito ruim chegar em um lugar, depois de uma viagem supercansativa, e ainda ficar procurando um lugar para dormir com ele. A gente sempre fez isso, nunca fazíamos reservas antecipadamente, mas com o Lipe não dá mais, é muita judiaria - acabávamos sempre ficando no primeiro lugar que aparecia, mesmo sendo ruim ou caro, só de preguiça e de peninha dele.

Daí as pessoas perguntam: "mas então como é que vocês fazem, chegam no lugar e...?" Ora, elementar, meus caros viajantes: nos abraçamos nos nossos guias de viagem, de preferência Lonely Planet, Let´s Go ou Rough Guide (nada de Frommer´s, que é para gente rica hehehehe).

Nesses guias, que são quase sempre em inglês, a gente acha TUDO o que pecisa: dicas de hotéis, restaurantes, passeios, meios de transporte - o que mais precisa???? Tem lá!
As minhas amigas comentam: "ah, mas eu gosto que tenha alguém me esperando no aeroporto, que me leve até o hotel e para fazer os passeios". Olha, claro que eu não sou louca de dizer que não gostamos disso também, mas, em primeiro lugar, isso custa caro; em segundo lugar, limita a nossa liberdade, a interação com os locais, aquele sentimento de "fazer parte" e não ser mais um "turista"; e, em terceiro lugar, demanda planejamento, que é difícil de se fazer em uma verdadeira viagem. 

Mas porque é difícil? 

Primeiro, porque isso que eu descrevi acima, para nós, é "férias", não é "viagem", se é que vocês entendem a diferença...nós também gostamos de resorts, pacotes, enfim - mas isso não é "viagem", é "férias"! Viagem é se perder, é pegar ônibus mequetrefe, é comer em banquinha de rua, é ficar hospedado em casas de famílias, é mudar de idéia no meio do caminho - se não tem improviso, para nós não é "viagem", mas sim "férias". Captou a diferença?
Então, numas "férias" é fácil planejar tudo (e também meio sem graça, a meu ver...); mas numa "viagem" é simplesmente impossível, porque deixaria de ser uma "viagem" e se tornaria umas "férias". Mas não é só pela incompatibilidade lógica que é difícil planejar uma viagem, mas também pela própria inviabilidade prática. Como poderíamos planejar cada dia de uma viagem de 5 meses? Para começar, não daria para comprar as passagens (de ônibus, trem, barco, riquixá, elefante, etc); sem as passagens compradas, a gente nunca sabe quando vai chegar em uma determinada cidade, e aí, como reservar os hotéis??? Impossível... 

Ahhh, mas isso porque era uma viagem longa, mas e as viagens curtas? Nas curtas, sempre existe a possibilidade de, no meio do caminho, a gente decidir mudar completamente os planos e ir para um lugar totalmente diferente. Já aconteceu de estarmos bem acomodados em um ônibus na Bolívia e pedirmos para o motorista parar no meio do nada porque havíamos mudado os planos e queríamos ir para o Chile (jamais havíamos cogitado de ir para o Chile naquela viagem, mas, conversando com outros viajantes, e ouvindo falarem das maravilhas do Salar de Uyuni, não resistimos...). O que faríamos se tivéssemos tudo reservado?

Com o pequeno viajante, diferentemente do que as pessoas costumam pensar, essa flexibilidade ficou ainda mais importante. Tínhamos a tranquilidade de sempre saber que, a qualquer momento, se ele não estivesse desfrutando da viagem, poderíamos, em qualquer lugar, pegar um vôo de volta a Lisboa e, de lá, para casa. E era muito bom saber disso, porque efetivamente pensamos em fazer isso várias vezes, heheheheh...
Outro ponto positivo do improviso é que, se estávamos cansados, podíamos ficar uns dias a mais, descansando, sem stress, sem roteiro preorganizado, sem aquela sensação de estar "perdendo" alguma coisa; se nos apaixonávamos por um lugar, ficávamos mais uns dias, para curtir; se começava a chover muito, íamos embora; se a previsão do tempo era ruim em um lugar, íamos primeiro para outro; se não tinha passagem de trem para Tomsk, seguíamos para Novosibirsk, sem problemas.

Converso com pessoas que têm medo de viajar assim, até pelo Brasil (é incrível!), e eu não consigo entender o porquê! No mundo inteiro milhares de pessoas viajam assim. É sério, isso não é privilégio (ou insanidade) nossa: em cada viagem a gente encontra centenas de gringos viajando exatamente desse jeito, às vezes com 3 ou 4 filhos atrás. Tá certo, sem falar inglês dificulta bastante, mas para quem fala inglês é tudo uma grande aventura, basta disposição e bom humor, além de uma carteirinha da FUNAI plastificada para segurar os perrengues - e um bom guia de viagem!

Nesta última viagem, essas foram as nossas "Bíblias" (claro que a gente faz muita coisa exatamente ao contrário do que sugere a "Bíblia" - ela serve mais para os momentos de desespero, como qualquer Bíblia, hihihihihi...):  


É claro que não tinha como a gente carregar nas mochilas todos eles, então acabamos levando apenas os que usaríamos por mais tempo: Ferrovia Transiberiana (que inclui guias das cidades de São Petesburgo e Moscou, além de Ulaan Baatar e Beijing), Malásia, Cingapura & Brunei (que eram lugares totalmente novos para nós) e Sudeste Asiático (que cobre Tailândia, Laos, Mianmar, Indonésia,...). Dos outros, fotocopiamos apenas as partes (países ou cidades) que nos interessavam e deixamos os originais em casa, na prateleira.


Agora, já estamos "planejando" a próxima "viagem", o que não significa que a gente esteja pensando em fazer qualquer reserva, além da compra da passagem aérea. Planejar, para nós, é ler, sonhar, ver filmes, documentários, pesquisar. Reservar hotel, fazer passeios e achar lugares legais para comer a gente deixa para fazer quando estiver lá!




Share

Claudia Rodrigues Pegoraro

Comente este Post:

4 comentários:

  1. Eu já tinha lido esse post quando o publicaste. Reli agora. Tudo verdade! Eu e a Fran, dia desses, classificamos como 'o jeito claudia rodrigues de viajar' kkkkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Adorei, Andrea! Bato tanto nessa tecla porque sei que, depois que vocês experimentarem, vão adorar viajar assim!

      Excluir
  2. Estou começando a querer me enquadrar nesse "jeito Claudia Rodrigues de viajar"...acho que vou gostar rsrsrsrs

    ResponderExcluir